A CEPA RENEGADA – CABOCLO(AS), INDÍGENA - NO DIA DO ÍNDIO
Há tempos atrás, li um livro intitulado “A cepa esquecida” – de Faris S. Micaelle – de sua leitura e do que vi depois poderia dizer – a cepa é renegada a mais , é menosprezada, quiçá desprezada isso sim!. Do que se trata? Apesar de certos livros didáticos escolares até dizerem que há os mamelucos e cafuzos – muito popularmente tbm chamados de caboclos, eis que nos dias que correm parece que foram postos pra escanteio. Os índios puros, que ainda vivem isolados, em aldeia, sem caldeamento de miscigenação racial, ainda tem seus defensores e até seu dia que é hoje dia 19/4. Mas e estes?
Ao falar de população só ouço: Sejam brancos, negros ou mulatos... Hã? E eles? Sumiram das estatísticas demográficas? Sei que os mais claros, tratados por Euclides da Cunha como brancaranos, ou os mais acobreados, são tratados de “morenos” – seria por ai o obscurecimento? Querem saber? Acho que se trata de simplesmente ignorar por um preconceito que vem de base – o Brasil detesta ser chamado de caipira, sertanejo e mais ainda que haja a lembrança indígena. Simplesmente isso, vergonha da origem tribal colonial! E índio se diz só o que se isola apenas? indio é índio onde estiver, na cidade ora bolas, deixa de ser?
Porque esse estimulo a sua falta de inserção, ainda que com preservação de cultura? E aos mestiços, a falta de oportunidades pelo preconceito quando o país virou as costas para essa população a parte, indígena e cabocla, que se perdura até hoje podem ter certeza, os índios nunca foram inseridos na sociedade progressista e seu mestiço segue em paralelo a ela. Onde estão eles, índios e mestiços que não marginalizados até hoje, da educação, do progresso, do moderno?
Diga alguém que é meio índio ou índio que vive na dita civilização? Não aceita! Como é comum se dizer: parece índio! Bando de selvagens ( como fossem índios )... Olha-se ao redor e onde que eles estão ali? Não, a forma de tratar veio desse escárnio que estigmatizou os índios e permeia seus descendentes, mas que mesmo não sendo, só são lembrados no pior? Como assim cara pálida? Onde está a lógica de inversão de valores, os ditos civilizados embrutecidos e deseducados só são assim por espelho de um dito modo suposto tribal inexistente que não o de má-educação e deselegância de costumes em geral!
E na base colonial, o sertanejo e o caipira, partes da dita “população livre”, eram escravos da miséria e do descalabro, a margem e a míngua dos latifúndios geralmente escravocratas, a não ser como agregados ou nos pastoreios vaqueiros sertanejos, percebidos em obras como “As classes perigosas - ” de Alberto Passos Guimarães. A verdade, que a miscigenação inicial a torto e direito, fez com que, se alguns virassem até Fidalgos, como na célebre historia de Caramuru e Paraguaçu, a maioria ficou a margem no país dito escravocrata porque não tinha “população para trabalhar” – ou seja, ficou a pecha de preguiçosos e intratáveis, vinda da origem indígena diga-se de passagem, quando não submissos, não se submeteram a escravidão violenta. E relutavam contra as ditas bandeiras e seus bandeirantes de aprisionamento.
Mas diga-se, até o século XVII a escravidão indígena era comum, em especial em São Paulo e arredores, quando caçados pelos Bandeirantes de apresamento nas ditas entradas. Era quando o tupi era a língua bem comum como o português e isso esquecem como ela foi incorporada a nosso linguajar, e foi por ordem do Marques de Pombal que só ao final desse século que foi determinado o fim da escravidão aborígene indígena, chamados na época de gentios ou negros da terra - houve sim gente a abolição da escravatura indígena em 4 de abril de 1680, mas hoje quem quer saber?. Mas porque tratar disso né? Os negros foram bem mais brutalizados pela pecha cruel da escravidão? Foi, bem mais. Mas o índio não fugiu disso até serem tachados de inviáveis preguiçosos ao largarem o tolhimento de sua liberdade com a brutalidade da mentalidade escravocrata.
Antigamente muitos autores falavam deles, como a parte pouco dita de ”O homem” no “Os sertões” de Euclides da Cunha, o que é pouco divulgado, se mostrando e falando apenas que o sertanejo antes de tudo é um forte - só não divulga mais suas origens raciais de sertanejos, vaqueiros e jagunços que está na obra. Em obras como “Bandeirantes e Pioneiros” de Vianna Moog, no jeca Tatu e livros adultos de Monteiro Lobato, ele mesmo um dono herdeiro de fazenda que viu de frente os desvalidos do caboclo-caipira paulista de Taubaté. Assim como em obras de Paulo Prado, entre tantos outros, até no célebre “Casa Grande & Senzala”, que é tão celebrado pela exaltação da mulatice brasileira, que de fato há, fala sim em seu primeiro capítulo essa outra miscigenação e ainda que maior de cepa afro-brasileira nessa mistura entre raças, mas por favor, não única em sua essência e raiz.
Houve um tempo que nas músicas havia a “Cabocla de Caxangá, minha cabocla vem cá” de ou “Cabocla o seu olhar está me dizendo que você está me querendo, que vc gosta de mim”, tão famosa na voz de Nelson Gonçalves. Mas hoje, a mestiça exaltada, falada repetidamente é a mulata, destarte dizerem que o preconceito racial é contra os negros, que muito de verdade tem. Mas e a cabocla? Não ficou mais no imaginário moreno, simplesmente há a “morena”... Mas eis que ao ir ao pantanal, indo antes a Corumbá em 1983, estive com uma em barca de passeio do Rio Paraguai e percebi: quanta BELEZA PURA!
A cepa esquecida, renegada, faz parte de grosso modo do norte, nordeste e Centro Oeste, o que talvez até explique, porque o país sempre se voltou pro litoral. Mas eles hoje fazem parte de um mundo em expansão agrícola e de cidades e muitos são migrantes, parte deles são taxados preconceituosamente de paraíbas, pau-de-arara, caipi(o)ras, nortista e outros baixos adjetivos instintivos revivendo velhos preconceitos coloniais. Não creio que jamais se mudará isso, o país marcha ao futuro renegando esse passado de ter em suas veias o fenótipo genético e de ter raízes caboclas, que tanto nariz torcido traz, sem se fazer notar está em voga... E se renova!
Esse é o dito Brasil grande – que se volta contra seu passado e se fecha ao futuro a tanto dos seus desvalidos... Ainda mais se nela se encontrar os índios e seu genérico descendente caboclo...
Tchucarramãe
Tchucarramãe
Oswaldo Montenegro
Beijo na na
Beijo na nação pri
Beijo na nação primeira tchucarramãe nossa!
Beijo na nação pri
Beijo na nação primeira tchucarramãe nossa!
Mãe nossa trouxe um índio novo
Numa estrela colorida
E brilhante que brilha
Mãe nossa fez de novo
I Juca Pirama gritar
Carne de branco é salgada
Mas a gente gosta
Bodoques, enxadas e flechas
Pilão de farinha
Numa estrela colorida
E brilhante que brilha
Mãe nossa fez de novo
I Juca Pirama gritar
Carne de branco é salgada
Mas a gente gosta
Bodoques, enxadas e flechas
Pilão de farinha
Beijo na nação primeira tchucarramãe nossa!
Mãe nossa deu apito
Agora a gente apita e grita
Cem quilômetros de terra
Crão, Xerente, Yanomami, Apinajé, Carajá
A gente coça a cabeleira
E grita e pula e canta
Mãe nossa faz da vida inteira
Um grita-e-pula-e-canta
Agora a gente apita e grita
Cem quilômetros de terra
Crão, Xerente, Yanomami, Apinajé, Carajá
A gente coça a cabeleira
E grita e pula e canta
Mãe nossa faz da vida inteira
Um grita-e-pula-e-canta
Beijo na nação primeira tchucarramãe nossa!
O
mestiço brasileiro – Porque Me Ufano do Meu País
Fonte: Afonso Celso, Porque Me Ufano do Meu País.
Do cruzamento das três raças, – portuguesa,
africana e índia, – originou-se o tipodo mestiço brasileiro, chamado mameluco quando provém da união entre o
branco e o selvagem, cafuz ou caboré quando se engendra da do selvagem com o
negro. A denominação popular – caboclo designa os primeiros, cabra – os segundos.
Por sua energia, coragem, espírito de iniciativa, força de resistência a
trabalhos e privações, ganharam os mamelucos justa celebridade no período
colonial.
Apresentam os cafuzes as qualidades dos mamelucos, a par de seus defeitos, entre os quais avulta o da imprevidência, total despreocupação do futuro.
Apresentam os cafuzes as qualidades dos mamelucos, a par de seus defeitos, entre os quais avulta o da imprevidência, total despreocupação do futuro.
Os mestiços brasileiros contribuíram e contribuem eficazmente para a
formação da riqueza pública. Só eles exercem certas tarefas. Não se prestam a
trabalhos, sedentários, mas são exímios na exploração da indústria pastoril,
importante num país como o Brasil, onde abundam os campos.
São mestiços os vaqueiros, notáveis pela sobriedade, e desinteresse,
gozando sempre de inalterável saúde; são mestiços os canoeiros e jangadeiros do
norte que, sobre toros ligeiros e mal unidos, afrontam o oceano ou as
corredeiras de caudalosos rios, em longas e arrojadas excursões; são mestiços
os cearenses adaptáveis aos mais rudes climas e aos mais duros labores; são
mestiços os caipiras, independentes e fortes; são mestiços os gaúchos, afeitos
à existência errante, vivendo em cima do cavalo, infatigáveis, de força e
destreza raras, prontos à aventura, audaciosos e astutos.
A tenacidade, a dedicação, a bravura de que são capazes os mestiços
prova-o o fato de Canudos, onde, poucos e mal armados, fizeram frente a
poderoso exército.
Muito inteligentes, têm as suas legendas, as suas cantigas ao som da
viola, a sua linguagem especial. Deriva dessa linguagem um dos principais
elementos para a estrutura do idioma brasileiro que há de um dia diferenciar-se
do português como este se diferenciou do latim, e que já possui prosódia,
vocabulário e construções sintáxicas peculiares, perfeitamente distintas.
O mestiço brasileiro não denota inferioridade alguma física ou
inteletual.
É susceptível de
quaisquer progressos. Têm produzido grandes homens em todos os ramos da
atividade social. S. Paulo, lugar em que mais considerável se operou o
cruzamento com os índios, marcha na vanguarda da nossa civilização.
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