O Chico como
popularmente se consagrou, começou com carinha meio tímida, intimista e já
chegou mandando ver nos festivais da canção nos idos anos 60: com “A banda”
animou mais que a cidade, todo país com essa marchinha cheia de graça e ali já
percebia que além do compositor, o letrista flertava com a poesia. Depois tão
bem cantada com graça por Nara Leão parceira de cantorias.
E que ele levou mais
a fundo ainda com “Roda viva” cantando junto com MPB-4, uma letra instigante
que demonstra um Chico certamente já antenado com o sistema engolindo as
pessoas. Numa época de começo de ditadura ele foi campeão disso: fazer letras
defrontando o poder sem que ele se sentisse ofendido ao não entender as
sublinhas me parece.
E “Sabiá” junto com
Tom Jobim tão vaiado por ser lírico em contraponto ao “Pra não dizer que não
falei de flores” no fundo já falava dos que tinham que partir pro exílio, na
perseguição política dos que eram vistos como esquerdistas, com alguns sumindo
nos porões ditatoriais, outros tendo que sair um a um, após ficar claro que a
guerrilha não mudaria o estado de coisas e os intelectuais passaram a ser mal
vistos como formadores de opinião.
O meu primeiro
contato com ele foi numa série comprada nas bancas que me fez definitivamente
preferir a MPB de qualidade. O álbum “meus caros amigos” foi o primeiro de
muitos que comprei dele. Não digo que era o preferido, mas com certeza tinha bom
conceito dele a ponto de o ter como um dos referenciais musicais. E várias
canções e letras foram ponto de partida que me fizeram ser querer sonhar ser um compositor um dia
ainda que malfadado acabou sendo. E foram a fundo seu som e sabedoria em minha história de vida pessoal.
A ditadura aos
poucos o foi tolhendo e ele reagiu com graça com “Apesar de você” e “Você não
gosta de mim, mas sua filha gosta”. Cada vez mais acossado pela censura um dia
compôs com Gilberto Gil “Cálice” contrapondo ao cale-se censorial. Genial essa manobra
de como que em código artístico se voltar contra um regime de mão de ferro dos
quartéis. Acabou que foi ao exílio voluntário na Itália, mas em breve voltou.
Teve um contraponto ao
apenas músico e cantor: ele entrou de vez numa vertente destacada de dramaturgo
musical, em que se encenavam peças com músicas ao fundo se destacando em canto
– interessante isso. “Calabar” foi sua peça junto com Ruy Guerra mais
contundente, em metáfora política usando um personagem histórico. Como foi “Roda viva”. Porém a mais popular
foi a “Ópera do malandro”, ele aqui e acolá trazendo a tona um jeito mais
carioca na alma de ser. Ainda se destaca
“Gota d’água” com Paulo Pontes utilizando o mito de Medeia para o tempo atual e
“os Saltimbancos”, um infanto-juvenil.
A dizer a verdade
admirei o artista e compositor Chico, só nunca concordei com sua posição de apoio
a Cuba dos irmãos Castro ditatorial em idealismo se confundindo com uma
ideologia retrógrada e ao então visto esquerdismo brasileiro ético que o tal PT
se propôs e hoje se vê uma farsa pelo poder corrupto. Nunca o vi revendo
conceitos e apoios a essa forma retrógrada que hoje infesta o país. Isso o faz
desmerecer? Não, nunca.
O intelectual, o
artista, o artesão cultural ainda vale e muito. Ainda teve capacidade de fazer
livros e ser algo literato com obras como “Estorvo”, “Budapeste” “leite
derramado” “A fazenda modelo”. Confesso que não tive tanta vontade de ler
nenhum, talvez um erro a ser corrigido. Não por desconsiderar nesse ponto, só
que eu continuo o vendo mais pelo campo musical, letrista e teatral. Esse lado
é mestre ainda considero e muito.
Anos 70 e 80 um hit
a cada instante ele fez. O cancionário nacional ganhou diversos sons que foram
imortalizados por ele e outros intérpretes. Sabedor da alma feminina seu alto
ego sensível fez com que muitas mulheres o admirassem, sem contar seus olhos
azuis que o tinham como um quase galã informal e bem visto pelo seu jeito
contido pouco sociável mas afável.
Tantos parceiros
teve, notáveis como Tom Jobim, Milton Nascimento, Gilberto Gil, , Edu lobo,
Francis Hime. E com Caetano Veloso ainda por cima dividiu um programa na TV
GLOBO num tempo de que a Televisão aberta abria espaço a música de categoria e
com esses dois reunidos não podia deixar de ser um marco televisivo musical.
Quantos sucessos em
sucessão! Melodias e letras magistrais... Tais como “Construção” “O que será”,
“samba do grande amor “passaredo” ,
“vai passar” , “Pivete”, “Carolina” “Olhos nos olhos” “pedaço de mim” “gota d’
água” “As vitrines” "meu guri", "partido alto" ciranda da bailarina” etc etc.
O Chico Buarque de
todos nós apreciadores da boa música virou quase sinônimo de MPB. Que seria
dessa sem ele? Bem mais pobre com certeza. Hoje está mais recolhido que nunca,
ele que nunca foi dado a shows com seu jeito de bom moço inteligente. Não
importa: ele continuará no imaginário popular dos que tem bom gosto e bom nível
cultural.
Parabéns Chico por usa obra, sua vida, seu carisma e categoria.
Ícone e ídolo.
Somos todos seus fãs!
ABAIXO OVERDOSE DE VÍDEOS COM AS
CANÇÕES CITADAS NO TEXTO - E
EXISTEM TANTAS MAIS!
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