Guerra do
Contestado:
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Guerra do Contestado
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Data
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12 de outubro de 1912 - Agosto de 1916
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Local
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Região do
contestado, sul do Brasil
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Resultado
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Acordo de limites
entre os governos deParaná e Santa Catarina
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Combatentes
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Comandantes
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Forças
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Baixas
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A Guerra do
Contestado foi
um conflito armado entre a população cabocla e os
representantes do poder estadual e federal brasileiro travado entre outubro
de 1912 a
agosto de 1916, numa região rica em erva-mate e madeira disputada pelos estados
brasileiros do Paraná e de Santa Catarina.
Originada nos
problemas sociais, decorrentes principalmente da falta de regularização da
posse de terras e da insatisfação da população hipossuficiente, numa região em
que a presença do poder público era pífia, o embate foi agravado ainda pelo
fanatismo religioso, expresso pelomessianismo e pela crença, por
parte dos caboclos revoltados, de que se tratava de uma guerra santa.
A região
fronteiriça entre os estados do Paraná e Santa Catarina recebeu o nome de
Contestado devido ao fato de que os agricultores contestaram a doação que o
governo brasileiro fez aos
madeireiros e à Southern Brazil Lumber &
Colonization Company. Como foi uma região de muitos conflitos, ficou
conhecida como Contestado,
por ser uma região de disputas de limites entre os dois estados brasileiros.
Índice
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Antecedentes
Antes dos
acontecimentos que culminaram na guerra, houve:
§ Ação
judicial de Santa Catarina contra o Paraná em 1900, por limites
§ Decisões
judiciais do Supremo Tribunal Federal pró-Santa Catarina
em 1904, 1909 e 1910
§ Construção
da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, de 1908 a
1910
§ Criação
dos municípios de Canoinhas, Itaiópolis e Três Barras em Santa Catarina,
e de Timbó no
Paraná.
§ Instalação
da Southern Brazil Lumber & Colonization Company]] em Calmon (1908)
e em Três Barras (1912)
§ Construção
do Ramal de São Francisco, a partir de 1911
§ 1911: Revolta do ex-maragato Aleixo Gonçalves
de Lima em Canoinhas
§ Combate
no Banhado Grande, em Irani, em outubro de 1912
§ 1911:
Escrituração de glebas de terras devolutas do Contestado para a EFSPRG
§ Disputas
pela exploração dos ervais - concessões de Estados e Municípios
§ Vendas
suspeitas de terras no Contestado, do Estado para especuladores – bendegós
§ Disputas
eleitorais entre os coronéis da região pelos domínios políticos nos municípios
§ Espírito
guerreiro do caboclo pardo (Revolução Farroupilha e Revolução Federalista)
§ Religiosidade:
messianismo, misticismo e fanatismo da população cabocla
§ Ideologia
nacionalista – civilismo na República – construção do exército
Preliminares:
o poder dos monges
Para entender-se
bem a guerra sertaneja , é preciso voltar um pouco no tempo e resgatar o valor
da figura de três monges da
região. O primeiro monge que galgou fama foi João
Maria, um homem de origem italiana, que
peregrinou pregando e atendendo doentes de 1844a 1870. Fazia questão de viver uma vida
extremamente humilde, e sua ética e forma de viver arrebanhou milhares de
crentes, reforçando o messianismo coletivo. Sublinhe-se, porém, que não exerceu
influência direta nos acontecimentos da Guerra do Contestado que ocorreria
posteriormente. João Maria morreu em 1870, em Sorocaba, estado de São Paulo.
O segundo monge
adotou o codinome (alcunha) de João Maria, mas seu verdadeiro
nome era Atanás Marcaf, provavelmente de origem síria. Aparece
publicamente com a Revolução Federalista de 1893, mostrando uma postura firme e uma
posição messiânica. Sobre sua situação política, dizia ele "estou do lado
dos que sofrem". Chegou,
inclusive, a fazer previsões sobre os fatos políticos da sua época. Atuava na
região entre os rios Iguaçu e Uruguai. É de
destacar a sua influência inquestionável sobre os crentes, a ponto de estes
esperarem a sua volta através da ressurreição, após
seu desaparecimento em 1908.
As entrelinhas do
que estava por vir estavam se amarrando entre si. A espera dos fiéis acabou em 1912, quando apareceu publicamente a figura do
terceiro monge. Este era conhecido inicialmente como um curandeiro de ervas, tendo se
apresentado com o nome de José Maria de Santo Agostinho, ainda que, de acordo
com um laudo da polícia da Vila de Palmas,
Estado do Paraná, ele fosse, na verdade, um soldado desertor condenado por estupro, de nome Miguel Lucena de Boaventura.
Como ninguém
conhecia ao certo a sua origem, como aparentava uma vida reta e honesta, não
lhe foi difícil granjear em pouco tempo a admiração e a confiança do povo. Um dos
fatos que lhe granjearam fama foi a presunção de ter ressuscitado uma jovem
(provavelmente apenas vítima de catalepsia patológica). Supostamente também recobrou
a saúde da esposa do coronel Francisco de Almeida, acometida de uma doença
incurável. Com este episódio, o monge ganha ainda mais fama e credibilidade ao
rejeitar terras e uma grande quantidade de ouro que o coronel, agradecido, lhe
queria oferecer.
A partir daí, José
Maria passa a ser considerado santo: um homem que veio à terra apenas para
curar e tratar os doentes e necessitados. Metódico e organizado, estava muito
longe do perfil dos curandeiros vulgares. Sabia ler e escrever e anotava em
seus cadernos as propriedades medicinais das plantas encontradas na região. Com
o consentimento do coronel Almeida, montou no rancho de um dos capatazes o que
chamou de farmácia
do povo, onde fazia o depósito de ervas medicinais que
utilizava no atendimento diário, até horas tardias da noite, a quem quer que o
visitasse.
Os confrontos se iniciam
Após a conclusão
das obras do trecho catarinense da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, a companhia Brazil Railway Company, que recebeu do governo
15 km de cada lado da ferrovia, iniciou a
desapropriação de 6.696 km² de terras (equivalentes a 276.694 alqueires) ocupadas já há
muito tempo por posseiros que viviam na região entre o Paraná e Santa Catarina.
O governo brasileiro, ao firmar o contrato com a Brazil Railway Company, declarou a área como
devoluta, ou seja, como se ninguém ocupasse aquelas terras. "A área total
assim obtida deveria ser escolhida e demarcada, sem levar em conta sesmarias
nem posses, dentro de uma zona de trinta quilômetros, ou seja, quinze para cada
lado"... Isso, e até mesmo
a própria outorga da concessão feita à Brazil Railway Company, contrariava a
chamada Lei de Terras de 1850. Não obstante, o
governo do Paraná reconheceu os
direitos da ferrovia; atuou na questão, como advogado da Brazil Railway, Affonso Camargo,
então vice-presidente doestado.
Esses camponeses
que viram o direito às terras que ocupavam ser usurpado, e os trabalhadores
que foram demitidos pela companhia (1910),
decidiram então ouvir a voz do monge José Maria, sob o comando do qual
organizaram uma comunidade.
Resultando infrutíferas quaisquer tentativas de retomada das terras - que foram
declaradas "terras devolutas" pelo governo
brasileiro no contrato firmado com a ferrovia - cada vez mais
passou-se a contestar a legalidade da desapropriação. Uniram-se ao grupo
diversos fazendeiros que, por conta da concessão, estavam perdendo terras para
o grupo deFarquhar,
bem como para os coronéis manda-chuvas da região.
A união destas
pessoas em torno de um ideal, levou à organização do grupo armado, com funções
distribuídas entre si. O messianismo adquiria corpo. A
vida era comunitária, com locais de culto e procissões,
denominados redutos. Tudo pertencia a todos. O comércio convencional foi
abolido, sendo apenas permitidas trocas. Segundo as pregações do líder, o mundo
não duraria mais 1000 anos e o paraíso estava próximo.
Ninguém deveria ter medo de morrer porque ressuscitaria após o combate final. É
de destacar a importância atribuída às mulheres nesta sociedade. A virgindade
era particularmente valorizada.
O "santo monge" José Maria rebelou-se, então, contra a recém formada república brasileira e decidiu dar status de governo independente à comunidade que comandava. Para ele, a república era a "lei do diabo". Nomeou "imperador do Brasil" um fazendeiro analfabeto, nomeou a comunidade de "Quadro Santo" e criou uma guarda de honra constituída por 24 cavaleiros que intitulou de "Doze Pares de França", numa alusão à cavalaria de Carlos Magno na Idade Média.
Os camponeses
uniram-se a este, fundando alguns povoados, cada qual com seu santo. Cada
povoado seria como uma "monarquia celeste", com ordem própria, à
semelhança do que Antônio
Conselheiro fizera
em Canudos.
Convidado a
participar da festa do Senhor do Bom Jesus,
na localidade de Taquaruçu (município de Curitibanos), o
monge foi acompanhado de cerca de 300 fiéis, e lá permaneceu por várias
semanas, atendendo aos doentes e prescrevendo remédios.
Desconfiado com o
que acontecia, e com medo de perder o mando da situação local em Curitibanos, o
coronel Francisco de Albuquerque, rival do coronel
Almeida, enviou um telegrama para a capital do estado pedindo auxílio contra
"rebeldes que proclamaram a monarquia em
Taquaruçu"'.
Primeiras mortes
O governo
brasileiro, então comandado pelo marechal Hermes da Fonseca,
responsável pela "Política das Salvações", caracterizada por
intervenções político-militares que em diversos Estados do país pretendiam
eliminar seus adversários políticos, sentiu indícios de insurreição neste
movimento e decidiu reprimi-lo, enviando tropas para
"acalmar" os ânimos.
Antevendo o que
estava por vir, José Maria parte imediatamente para a localidade de Irani com
todo o seu carente séquito. A localidade nesta época pertencia a Palmas, cidade que
estava na jurisdição do Paraná, e que tinha
com Santa Catarina questões jurídicas
não resolvidas por conta de divisas territoriais, e acabou vendo nessa grande
movimentação uma estratégia de ocupação
daquelas terras.
A guerra do
Contestado inicia-se neste ponto: em defesa de suas terras, várias tropas do
Regimento de Segurança do Paraná são enviadas para o local, a fim de obrigar os
invasores a voltar para Santa Catarina. Estamos em outubro de 1912.
Mas as coisas
ocorrem bem diferente do planejado. Tem início um confronto sangrento entre
tropas do governo e fiéis do Contestado no lugar chamado "Banhado
Grande". Ao término da luta, estão sem vida dezenas de pessoas, de ambos
os lados. Morreram no confronto o coronel João Gualberto, que comandava as tropas, e também o
monge José Maria, mas os partidários do contestado tinham conseguido a sua
primeira vitória.
José Maria foi
enterrado com tábuas pelos seus fiéis, a fim de facilitar a sua ressurreição,
já que os caboclos acreditavam que este ressuscitaria acompanhado de um
"exército encantado", vulgarmente chamado de "Exército de São
Sebastião", que os ajudaria a fortalecer a "monarquia celeste" e
a derrubar a república, que cada vez mais acreditava-se ser um instrumento do
diabo, dominado pelas figuras dos coronéis.
Mais
confrontos, ataques e contra-ataques
Em 8 de fevereiro de 1914, numa ação conjunta de Santa Catarina, Paraná e governo federal,
foi enviado a Taquaruçu um efetivo de 700 soldados, apoiados por peças de artilharia e metralhadoras. Estes
logram êxito na empreitada, incendeiam completamente o acampamento dos jagunços, mas sem
muitas perdas humanas, já que os caboclos e fiéis da causa
do Contestado se refugiaram emCaraguatá, local de
difícil acesso e onde já viviam cerca de 20.000 pessoas.
Os fiéis que mudaram
para Caraguatá, interior do atual município de Lebon Régis, eram
chefiadas por Maria Rosa, uma jovem com 15 anos de idade,
considerada pelos historiadores como uma Joana D'Arc do sertão, já que
"combatia montada em um cavalo branco com arreios forrados de veludo,
vestida de branco, com flores nos cabelos e no fuzil". Após a morte de
José Maria, Maria Rosa afirmava receber, espiritualmente, ordens do mesmo, o
que a fez assumir a liderança espiritual e militar de todos os revoltosos,
então cerca de 6.000 homens.
De março a maio
outras expedições foram realizadas, porém todas sem sucesso. Em 9 de março de 1914, embaladas pela vitória de Taquaruçu, que
tinham destruído completamente, as tropas cercam e atacam Caraguatá, mas aí o
desastre é total. Fogem em pânico perseguidos pelos revoltosos. Esta nova
vitória enche os contestadores de ânimo. O fato repercute em todo o interior,
trazendo para o reduto ainda mais pessoas com interesses afins, mas também
atinge em cheio ao governo e aos órgãos legalmente constituídos.
Como cada vez mais
pessoas engajavam-se abertamente ao movimento, piquetes foram formados pelos
fiéis para o arrebanhamento de animais da região a fim de suprir as
necessidades alimentícias do núcleo de Caraguatá. São então fundados os redutos
de Bom Sossego e São Sebastião.
Só neste último se aglomeravam cerca de 2.000 pessoas.
Além de colocar em
prática técnicas de guerrilha para a defesa dos
ataques do governo, os fanáticos passaram ao contra-ataque. Em 2 de setembro,
lançaram um documento que intitulou-se "Manifesto Monarquista", deflagrando-se, a
partir de então, o que chamavam de a guerra santa,
caracterizada por saques e invasões de propriedades de coronéis e por um
discurso que exigia pobreza e cobrava exploração ao máximo da República.
Invadiam as
fazendas dos coronéis tomando para si tudo o que precisavam para suprir as
necessidades do reduto. Além disso, amparados nas vitórias que tiveram,
atacaram várias cidades, como foi o caso de Curitibanos, onde os
alvos eram invariavelmente oscartórios, locais
onde se encontravam os registros das terras que antes a eles pertenciam. Não
bastasse isso, num outro ataque na localidade de Calmon, destruíram completamente a segunda
serraria da Lumber, uma das empresas que vieram de fora
para explorar a madeira da faixa de terra de 30 quilômetros (15 quilômetros de
cada lado) às margens da ferrovia.
O controle começa a mudar de lado
Com a ordem social
cada vez mais caótica na região, o governo central designou o general Carlos Frederico de Mesquita,
veterano de Canudos,
para comandar uma ação contra os rebeldes. Inicialmente tentou, sem êxito, um
acordo para dispensar os revoltosos; a seguir atacou duramente Santo Antônio, obrigando os rebeldes a fugir. O
reduto de Caraguatá, que antes vira as tropas do governo fugirem perseguidas
por revoltosos, tem agora de ser abandonada às pressas pelos mesmos revoltosos
devido a uma grande epidemia de tifo. Considerando,
equivocadamente, dispersos os revoltosos, o general Mesquita dá a luta por
encerrada.
Mas a calmaria
terminaria logo. Os revoltosos rapidamente se reagrupam e se organizam na
localidade de Santa Maria, interior norte do município de Lebon Régis,
intensificando os ataques: tomam e incendeiam a estação de Calmon; dizimam a vila de São João (Matos Costa), atacam Curitibanos e ameaçam Porto União da Vitória,
cuja população abandona a cidade em desespero.
Os boatos chegam
até Ponta Grossa e dizem que os
revoltosos e seu exército pretendem marchar até o Rio de Janeiro para
depor o Presidente. Os rebeldes já dominam, nesta altura dos acontecimentos,
cerca de 250 km² da região do Contestado.
O governo federal
jogou uma outra, e ainda mais dura, cartada: nomeou o general Fernando Setembrino de Carvalho para o comando das
operações contra os contestadores. Este chegou a Curitiba em setembro de 1914, chefiando cerca de 7.000 homens, com
ordens de sufocar a rebelião e pacificar a região a qualquer custo. Sua
primeira providência foi restabelecer as ligações ferroviárias e guarnecê-las
para evitar novos ataques.
Nas proximidades
da ferrovia, o exército brasileiro construiu o Campo da Aviação de Rio Caçador,
onde hoje existe o município homônimo.
Como apoio de operações de guerra, pela primeira vez na história do Brasil foram
usados dois aviões para fins de
reconhecimento. Em um acidente durante as operações, morreu o capitão Ricardo Kirk,
primeiro aviador militar do Brasil.
Astutamente,
Setembrino enviou um manifesto aos revoltosos no qual garantia a devolução de
terras para quem se entregasse pacificamente. Garantia também, por outro lado,
um tratamento hostil e severo para quem resolvesse continuar em luta contra o
governo.
Mudança de estratégia
Com o passar do
tempo, general Fernando Setembrino de Carvalho adotou uma nova
postura de guerra, evitando o combate direto, que era o que os revoltosos
esperavam e para o que estavam se preparando, optando por cercar o reduto dos
fanáticos com tropas por todos os lados, evitando que entrassem ou saíssem da
região onde estavam. Para isto, o general dividiu seu efetivo em quatro alas
com nomes dos quatro pontos cardeais e, gradativamente, foi avançando e
destruindo qualquer resistência que encontrasse pelo caminho.
Com esta nova
estratégia, rapidamente começou a faltar comida nos acampamentos dos
revoltosos. Isto teve como consequência imediata a rendição de dezenas de
caboclos. Contudo, a maioria dos que se entregavam eram velhos, mulheres e
crianças - talvez uma contra-estratégia dos fiéis para que sobrasse mais comida
aos combatentes que ficaram para trás e que ainda defenderiam a causa.
Neste ponto da
guerra do Contestado, começa a se destacar a figura de Deodato Manuel Ramos,
vulgo "Adeodato", considerado pelos historiadores como o último líder
dos contestadores. Adeodato transferiu o núcleo dos revoltosos para o vale de
Santa Maria, que contava ainda com cerca de 50.000 homens. Só que aí, à medida
que ia faltando o alimento, Adeodato passou a revelar-se cada vez mais
autoritário, não aceitando a rendição. Aos que se entregavam, aplicava sem dó a
pena de morte.
Cerco fechado, sem
pressa e deixando os revoltosos nervosos lutarem contra si mesmos, em 8 de fevereiro de 1915 a
ala Sul, comandada pelo tenente-coronel Estillac, chegou a Santa Maria. De um
lado as forças do governo, bem armadas, bem alimentadas, de outro, rebeldes
também armados, mas famintos e sem ânimo para resistir muito tempo. A luta
inicial foi intensa e, à noite, o tenente-coronel ordenou a retirada, afinal,
já contabilizara só no seu lado 30 mortos e 40 feridos. Novos ataques e recuos
ocorreram nos dias seguintes.
Em 28 de março de 1915, o capitão Tertuliano
Potyguara parte
da vila de Reinchardt com
1.085 homens em direção a Santa Maria, perdendo só em emboscadas durante o
trajeto, 24 homens. Depois de vários confrontos, num deles Maria Rosa, a líder
espiritual dos rebeldes, morre às margens do rio Caçador. Em 3 de abril, as
tropas de Estillac e Potyguara avançam juntas e ordenadas para o assalto final
a Santa Maria, onde restavam apenas alguns combatentes já quase mortos pela
fome.
Em 5 de abril, depois
do grande assalto a Santa Maria, o general Estillac registra que "tudo foi
destruído, subindo o número de habitações destruídas a 5.000 (…) as mulheres
que se bateram como homens foram mortas em combate (…) o número de jagunços
mortos eleva-se a 600. Os redutos de Caçador e de Santa Maria
estão extintos. Não posso garantir que todos os bandidos que infestam o
Contestado tenham desaparecido, mas a missão confiada ao exercito está
cumprida". Os rebeldes sobreviventes se dispersaram em muitas cidades.
Em dezembro de 1915, o último dos redutos dos revoltosos foi
devastado pelas tropas de Setembrino. Adeodato fugiu, vagando com tropas no seu
encalço. Conseguiu, no entanto, escapar de seus perseguidores e, como foragido,
ficou ainda 8 meses escondendo-se pelas matas da região. Mas a fome e o
cansaço, além de uma perseguição sem trégua, fizeram com que Adeodato se
rendesse. Encerrava-se então, em agosto de 1916, com a prisão de Adeodato, a Guerra do
Contestado.
Adeodato foi
capturado e condenado a 30 anos de prisão. Entretanto, em 1923, 7 anos após ter sido preso, Adeodato foi
morto pelo próprio diretor da cadeia numa tentativa de fuga.
Estatísticas do confronto
§ Área
conflagrada: 20.000 km²
§ População
da época envolvida na área de conflito: aproximadamente 40.000 habitantes
§ Municípios
do Paraná, na época: Rio
Negro, Itaiópolis, Três Barras, União
da Vitória e Palmas
§ Municípios
de Santa Catarina, na época: Lages, Curitibanos, Campos Novos, Canoinhas e Porto União
Consequências imediatas
§ 20 de outubro de 1916: Assinatura do Acordo de Limites
Paraná-Santa Catarina, no Rio de Janeiro;
§ 7 de novembro de 1916: Manifestações nos municípios do
Contestado-Paranaense contra o acordo;
§ De
maio a agosto de 1917: Sublevação popular no
Contestado-Paranaense, pró Estado das Missões;
§ Maio
e junho de 1917: Ascensão e assassinato do monge Jesus Nazareno;
§ 3 de Agosto de 1917: Homologação final do Acordo de Limites;
§ Setembro
de 1917: Instalação dos municípios de Mafra, Joaçaba (então Cruzeiro), Chapecó e de Porto União;
§ 1918: Reinício da colonização no Centro-Oeste Catarinense, por
empresas particulares;
§ Janeiro
e maio de 1920: Revolta política em Erval e Cruzeiro;
Mais dados importantes
§ Início
da Guerra: outubro de 1912
§ Tempo
da Guerra: 46 meses (out/1912 a ago/1916)
§ Auge
da Guerra: Março-abril de 1915, em Santa Maria, na Serra
do Espigão
§ Final
da Guerra: Agosto de 1916, com a captura de Adeodato, o último
líder do Contestado
§ Combatentes
militares no auge da Guerra: 8.000 homens, sendo 7.000 soldados do Exército Brasileiro,
do Regimento de Segurança do Paraná, do Regimento de Segurança de Santa
Catarina, mais 1.000 civis contratados.
§ Exército
Encantado de São Sebastião: 10.000 combatentes envolvidos durante a Guerra.
§ Baixas
nos efetivos legalistas militares e civis: de 800 a 1.000, entre mortos,
feridos e desertores
§ Baixas
na população civil revoltada: de 5.000 a 8.000, entre mortos, feridos e
desaparecidos
§ Custo
da Guerra para a União: cerca de 3.000:000$000, mais soldados militares
§ A
Guerra do Contestado durou mais tempo e produziu mais mortes que a Guerra
de Canudos, outro conflito semelhante em terras do Brasil.
§ Em
cinco anos de guerra, 9 mil casas foram queimadas e 20 mil pessoas mortas.
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