Sábado passado chocados ficamos com a inesperada notícia do súbito infarto que ceifou a vida de um querido e admirado ator - e depois diretor e crítico de cinema e animador cultural - que é José Wilker.
Foi uma pena mesmo, não só pelo ser humano que era, também pelo artista e ser intelectual que sabia ser. O acompanho faz tempo - tirando teatro que nunca o vi, os seus destaques no cinema e na televisão.
Confesso que apreciava mais sua atuação no cinema, onde achava tinha mais verve, mais vida, mais ironia fina. Só que ao me deparar com suas atuações na TV pude perceber a grandeza lá também aqui e acolá.
Poderia falar de tantas coisas que fez, atuou, dirigiu, mas quero destacar as que mais gostei. Um apanhado das que acompanhei, que curti de montão. Desde os anos 70.
NA TELEVISÃO:
Lembro vivamente da atuação dele e de Regina Duarte deixando de lado um pouco o jeito namoradinha do Brasil no especial discriminado acima.
Era baseado dizem numa lenda e mito judaico, acho que da Cabala. O personagem de Wilker morria e depois influencia malignamente como um espirito do mal.
Resta pouco dela, nem foto dele lá encontrei só de Regina. E no youtube encontrei o vídeo-show dando uma pincelada em cena realmente impressionante. Grande atuação conjunta dos autores vejam só...
BASTA COPIAR E COLAR O LINK ABAIXO NA BARRA DE ENTRADA DA INTERNET PRA VER UM VIDEO-SHOW QUE LEMBROU O EPISÓDIO:
http://globotv.globo.com/rede-globo/video-show/v/tunel-do-tempo-em-1972-ia-ao-ar-o-caso-especial-dibuk-o-demonio/2061681/
GABRIELA CRAVO E CANELA
Se não me engano foi a primeira telenovela que acompanhei mesmo. Baseada no livro do festejado Jorge Amado e estrelado por Sônia Braga, quem não veria. Só que Wilker também roubou a cena.
Fazia o Mundinho Falcão na primeira versão, que contrariava o todo poderoso Coronel Ramiro Bastos interpretado por nada mais nada menos que Paulo Gracindo - politicamente e namorando a neta deste.
Foi marcante pra mim um personagem idealista daqueles. Anos depois quem diria interpretaria o coronel retrógrado Jesuíno com seu bordão "Prepare-se, hoje vou lhe usar" para a esposa - demais né? rs.
CARAS E BOCAS
Tem gente que nem se lembra dessa atuação, mas foi das poucas novelas das 7 que assisti mais capítulos. Pra quem não se lembra dela, ela não foi inesquecível por conta do romance que tinha nela.
O par com Natália do Valle teve seu encanto e química, mas a sátira a tecnologia, e o robô "Alcides" e o apartamento todo trabalhado na modernidade bem mais legal.
Foi uma novela que se diria comercial e descartável, mas eu me diverti de montão. E a pendenga e o embate do moderno do personagem de Wilker e o tradicional de Reginaldo Farias impagável e inesquecível.
ROQUE SANTEIRO
Dias Gomes era um diferencial em novela - com requinte e belas sátiras, era noveleiro também de primeira linha. Um dia quis levar do teatro para TV sua peça "Roque Santeiro".
Primeiramente proibida em primeira versão, ressurgiu em 1985 com um triângulo esplendoroso entre José Wilker ( Roque ), Santinha ( Regina Duarte ) e Sinhozinho Malta ( Lima Duarte ).
O herói que não morreu mas virou mito, a viúva que foi sem nunca ter sido, o refrão "TÔ CERTO OU TÔ ERRADO" e o fim calcado no filme "Casablanca" - são maravilhosos. José fazia parte dessa trinca de ouro.
RESPLENDOR
Inicio dos anos 90 teve uma novela diferente, de luta pela terra. O início da trama acho que foi bem mais marcante que a segunda, apesar dos esforços de Antonio Fagundes e Marcos Palmeira.
Nessa primeira fase havia o mítico Jequitibá e o combate ladino e feroz entre José Inocêncio e o coronel Teodoro. Esse interpretado magistralmente por Wilker.
Quem pode esquecer do seu "É justo muito justo, é justíssimo"??? Ninguém que sabia naquela época. Um extraordinário jeito de dizer - eu aceito mas não acato. Que acabou mal para seu personagem.
JK
Com atuações distintas do emérito Juscelino Kubistchek jovem ao mais velho em seriado mais recente da |TV Globo, quem diz aí quem mais se assemelhou pelo seu gestual, pelos olhos meio puxados, com seu jeito afável do ex-presidente?
Claro que Wilker, capitaneado pela diva Marilia Pera como sua esposa Sarah Kubistchek, o personagem histórico que saiu de Diamantina pra liderar e evoluir o país como Presidente da República.
E que criou Brasília. Governou no final dos anos 50 nos ditos anos dourados. Wilker o fez com maestria e galhardia de sua forma peculiar. Um JK também pra entrar na história.
NO CINEMA:
O CASAL
Interessante, se não me engano vi essa mesma história na TV em caso especial e no cinema. Época apaixonada de cinéfilo. Adorei a história de casal que enfrentava problemas conjugais aliados a uma gravidez.
Era algo que me preocupava quando fosse ter o meu: como sustentar, como manter a vida que se tem. Só que ele fazia de forma com picardia própria dele. Ele era apaixonado mas irresponsável, boêmio, garanhão.
Só que ao final ganha o seu mestrado justamente no tema que dominava: sobre Pedro Ivo, personagem da revolução praieira de Pernambuco. Vibramos juntos - bom um final feliz né? Com um casal com química.
DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS
Foi quando algum tempo depois ele veio nessa adaptação de Jorge Amado pra "Dona Flor e seus dois maridos" - claro que fui ver esse sucesso retumbante maior bilheteria nacional por longo tempo.
Ele o marido transloucado e sem vergonha Vadinho, que só com sua esposa Flor era menos irrequieto. Só que bagunceiro que era foi morrer no carnaval e veio como fantasma pra atormentar o novo casamento.
Era hilário ver um danado contrapondo com o certinho novo marido farmacêutico. Wilker parecia se esbaldar no papel e tornou célebre a cena final andando nu a três no Pelourinho.
BYE BYE BRASIL
No auge do cinéfilo que era, fui ao Centro da cidade ver esse filme que podia se chamar "Caravana Rolidei" - um quase road movie só que com muito bom humor e a cara do Wilker, que na tela era mais solto.
Dirigido por Cacá Diegues, super considerado por tantos na época, crítica e quem gostava também de cine Nacional, veio como válvula de escape em época ditadorial militar - deve ser por isso o título.
Um grupo mambembe que saia pelo país, Betty Faria era a estrela, depois veio um retirante (Fabio Junior surpreendendo) e misto de apresentador e mágico de Wilker. Que até fazia nevar no sertão como se vê na foto acima! rsrs.
OS INCONFIDENTES
Com seu jeito despojado, ele encararia um símbolo mito herói nacional de nossa história colonial: Tiradentes. Fui ver o filme na TVE canal 2. E pude ver como no drama ele sabia ir a fundo.
Fez um José Joaquim da Silva Xavier visceral, que se rebela e era bem mais real que os mostrados nos livros de história do Brasil. Ali não parecia um Jesus mas o alferes que se fez conjurado nas Minas Geraes.
Fosse no estrangeiro ganharia o Oscar. Fez o mártir com toda sua fúria santa e que com dor foi o único condenado de forma exemplar pela Coroa. Wilker passa a indignação do que foi esse martírio injusto.
O HOMEM DA CAPA PRETA
Tenório Cavalcante sempre me foi algo intrigante. Ao saber que havia um filme que retrataria essa personagem ímpar de Duque de Caxias no Rio, corri pra ver. Sabendo que era Wilker mais ainda.
Com uma boa caracterização do nordestino que depois conquistou poder e desafeto na baixada na baixa política de época, em meio a perseguição e muita violência.
Sua capa preta e a metralhadora Lourdinha cairam como uma luva pra ele. Ao lado de Marieta Severo como sua esposa, fez um retrato cru e cruel que viver esse homem enigmático e forte de postura.
O estava vendo outro dia mesmo no Vídeo-show, relembrando seus sucessos na TV - eu bem sei dos seus no cine, um deles jamais me esqueço "Bye Bye Brasil" que adorei, fora o teatro.
Grande expert do cinema era ele, sempre comentando como crítico o Oscar. Uma grande perda, pessoa culta e talentosa, deixa um vácuo. Vá em frente Big artista de nosso tempo para o além.
Nenhum comentário:
Postar um comentário