Rede Globo tem feito em formato de filmes, minisséries
de sua história. E nesta semana reprisou nesse formato “O pagador de promessas”.
Claro que não pude deixar de rever essa história originalmente que eu saiba uma
peça teatral do dramaturgo, escritor e novelista Dias Gomes, um saudoso extraordinário
autor escritor. E fazer essa percepção de agora.
De primeira, no entanto, me fez relembrar
não de quando passou a série, parece que em 1988, mas bem atrás: quando vi pela
primeira vez o filme ganhador da palma de ouro de Cannes de 1962 vejam só.
Posso dizer que no sentido filme nacional foi o primeiro que me chamou atenção,
foi impactante, em especial o clímax final genial proposto pelo autor, embora
tão triste...
Eram anos 70 quando vi e jamais esqueci as performances
dos artistas, em especial Leonardo Villar, capitaneado pela Rosinha feita por
uma Glória Menezes novinha. tão bem dirigidos por Anselmo Duarte, que também já
foi ator. O filme era em preto & branco, nítidas dificuldades de filmagem e,
no entanto foi algo maior: digno de nota.
A história de intolerância religiosa com
cunho social ajudava claro. A fé que movia aquele personagem Zé do burro, aparentemente
teimoso, e na verdade fiel a seus princípios. Por conta do equívoco que se traz
até hoje de sincretismo religioso, faz sua promessa de cura de seu burro
bichinho pra Iansã como fosse a mesma coisa que santa Bárbara.
Todos sabem que foi algo que se fazia pelos
antigos escravos, porém realmente espanta como prossegue em parte do imaginário
popular, sem querer desmerecer a religião afro-brasileira. Porém o padre
intolerante da Igreja Soteropolitana de Santa Bárbara, a perceber que o mesmo
fez por ser ignorante, não o deixa pagar sua promessa levando a cruz que tanto
pesou no caminho em dívida de sua fé ferrenha.
Aos poucos o clima em volta ficou cheio de
aproveitadores ou se confundiram com a boa fé do Zé: o malandro que é meio
cafetão de prostituta em cima da até então ingênua Rosinha. O jornalista
sensacionalista que quer ver algo agitador social de esquerda e pela luta fundiária. E
os capoeiras em sua luta contra a discriminação que sofriam desde sempre.
O clima pesou cada vez mais até a chegada
da polícia sem razão de ser. E quando passa de pacífico a revoltado indignado, vem a morte dele baleado e o povo respeitoso o
levando na cruz adentrando a igreja na força popular, feito um tosco mártir inglório Cristo caboclo, é algo que mexe
dentro de nós. O seriado agora pra mim foi mais bem gravado, claro dentro do
padrão Rede Globo, mas não foi como quando vi aquele filme mais simples, mas
tão bem elaborado dos anos 60.
Gostei sim da nova Rosinha feita por Denise
Milfont, já o Zé do burro de José Meyer ficou parecendo menos interiorano, claro
numa época que o mundo moderno já chega até nos sertões, já não tão sertão
assim. E a Salvador de agora já não é tão provinciana como era na época do
filme. Não sei dizer por que me identifiquei mais com a primeira versão, mas
ambas teve esmero e capricho.
A história ainda é marcante, das agruras da
gente de nosso povo ignóbil. E hoje já nem tanto como antes. O que mais machuca
ali é perceber que a inocência e a bondade sempre são engolidas como na música
de Chico Buarque fala, da roda viva que carrega tudo pra dentro dela. Só que
aqui a roda da morte rondou um coitado que só queria pagar sua promessa de fé
levada na cruz como no fardo de sua paupérrima vida até então sofrida.
Imagens do filme original:
E da série...
VÍDEOTRAILER DO PRIMEIRO FILME:
O pagador de promessas - uma análise...
Que tal vermos em formato teatral?
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