Há muitos anos atrás jamais esqueço mama Lucia
cantarolando “Segredo” ( “ Seu mal é comentar o passado. Ninguém precisa saber.
O que houve entre nós dois. O peixe é pro fundo das redes, segredo é pra quatro
paredes ) e pude saber dessa cantora da
chamada velha guarda da música brasileira chamada Vicentina de Paula Oliveira e que ficou conhecida e famosa como Dalva de Oliveira. Eu mais
chegado a gerações musicais pós 1960, fiquei sabendo dessa admiração da geração
que viveu o auge do Rádio ( em especial Mayrink Veiga e Nacional ), além de
palcos de cassinos que existiam. E Dalva preponderou como uma espécie de rainha
do rádio. Ao saber do detalhe dessa canção com mamacita, vim a saber da
situação que a gerou: as traições de seu marido Herivelto Martins, que formava
com ela e outro companheiro de palco negro chamado Nilo Chagas , que tiveram a
alcunha Trio de Ouro.
Ao que começaram ocorrer uma complicada forma
de indiretas ( ou diretas ) musicais um pra o outro da relação conturbada do
casamento a partir de então. Como hoje se faz pela internet, eles fizeram esse
jogo de letras e músicas que jogavam essa divergência de casal explícita em
público. Quando utilizada através da imprensa em formas de denúncias, foi a
fratura exposta definitiva de ambos, que fez até que seus filhos Pery Ribeiro
que viria a ser cantor de certo sucesso e o outro Ubiratan, terem que ir pra
internato pela justiça.
Abaixo segue o roteiro resumido disso em
canções de desamor e desentendimentos feitos pela escritora blogueira Patrícia
Palumbo. Foi em meio a isso que a série Dalva e Herivelton demonstra em meio a
atuação soberba de Adriana Esteves e digamos certinha de Fábio Assunção. A
troca e abandono dele não foram assim repentinos, porém, diga-se: ao se sentir
desprezada e menosprezada como mulher ela começou a se deixar levar por outros
homens. Como se diz por aí, mulher não trai, se vinga. Vinga ou busca
compensações? Afinal ele buscou uma relação extraconjugal com uma comissária de
bordo gaúcha vivida na trama Global por Maria Fernanda Cândido, com quem viveu na real até o fim da vida dele. Depois ela mantém relacionamentos que não prosperaram com cantor latino Tito Clement e um rapaz mais novo que ela, que após acidente grave de carro com outros mortos, o fez preso e prejudicando a relação.
Interessante verificar que destarte a identificação
musical dele com Dalva, e interesses comuns profissionais, como se deixa se
levar por uma necessidade de novo desejo. Isso fez com que ele fosse
execrado pelo público, que sentiu ela mais vítima, ele algoz. Algo contraditório. E afinal ela que
tinha o maior carisma, era a voz consagrada e querida da mídia de época. Ela só
queria a fidelidade já que amava o marido. Quando o interesse se vai desvai,
nada segura. Ainda mais quem tem como norma de conduta trair na infidelidade. Ou por conta de ter desgostado dela, acontece.
Uma pena, um casal que se ajustou na música e
na aproximação afetiva se perdeu como tantos casais, só que estes dois eram
notórios e isso fez com a lavagem pública por músicas e entrevistas virassem
uma lavagem suja de roupa. Daí que não sei se o título da série agora repassada
em formato de filme que vi com gosto deveria ter o subtítulo em “uma canção de
DESAMOR”. Por que foi isso que aconteceu
se sucedeu. Ela no leito de morte a suspirar em delírio uma declaração de amor
dele que só houve no início quando tudo era encanto.
E assim é com todos que tentam uma união
estável, harmoniosa e que se acredita eterna até que por mais que parecesse
segura, caiu na amargura do cada por si e vida que segue. Ela manteve o sucesso
e ele meio que caiu no ostracismo, apesar de ser considerado talentoso
compositor. A vida desune uma aliança que parecia firme e virou um jogo de
desavenças. No final das contas, no entanto o que fica é o sucesso de uma rica história de
cantorias, canções e uma cantora que foi um primor de sua época. Chamada de
rainha da voz rouxinol do Brasil, a mulata clara de lindos olhos verdes. E que
minha mãe se fez fã como tantas outras, nos áureos tempos entre 1940 a 1960...
O que mais ela queria na verdade desde o começo
é seu último sucesso retumbante "Bandeira branca"...
E cantar "Hino ao amor"...
As canções da briga Dalva e Herivelto:
Endereço da postagem:
http://patriciapalumbo.com/2010/01/07/as-cancoes-da-briga-dalva-e-herivelto/
Publicado em 07/01/2010 por Patrícia Palumbo
OBS: Com inserção da maioria das referidas canções.
OBS: Com inserção da maioria das referidas canções.
As coisas estão esquentando na nossa novela
favorita. E pensar que tudo isso se passou há uns bons 40 anos ou mais e a
gente aqui, sofrendo as agruras do casamento desfeito tendo a música como pano
e fundo e, vou confessar, pra mim como protagonista, personagem principal.
Por isso, dedico esse post às canções que
foram feitas, gravadas, escritas especialmente para essa briga conjugal das
mais famosas da nossa história.
Como já contei no post anterior Herivelto
já anunciava a separação quando compôs “Caminhemos” gravada por Francisco
Alves. No mesmo ano fez pra Dalva “Segredo” e já tinhamos aí dois clássicos
numa tacada só. Vamos às letras:
CAMINHEMOS
Não, eu não posso lembrar que te amei
Não, eu preciso esquecer que sofri
Faça de conta que o tempo passou
E que tudo entre nós terminou
E que a vida não continuou pra nós dois
Caminhemos, talvez nos vejamos depois
Vida comprida, estrada alongada
Parto à procura de alguém
Ou à procura de nada…
Vou indo, caminhando
Sem saber onde chegar
Quem sabe na volta
Te encontre no mesmo lugar
Com o filho Pery Ribeiro
SEGREDO
Teu mal é comentar o passado
Ninguém precisa saber o que houve entre nós
dois
O peixe é pro fundo das redes, segredo é
pra quatro paredes
Não deixe que males pequeninos
Venham transformar os nossos destinos
O peixe é pro fundo das redes
Segredo é pra quatro paredes
Primeiro é preciso julgar
Pra depois condenar
Quando o infortúnio nos bate à porta
O amor nos foge pela janela
A felicidade para nós está morta
E não se pode viver sem ela
Para o nosso mal não há remédio coração
Mas a polêmica mesmo veio depois quando
Dalva volta de viagem, separada de Herivelto – que já estava morando com a nova
mulher, e grava “Tudo Acabado”, de J. Piedade e Oswaldo Martins. Ela começa aí
uma carreira solo de grande sucesso e Herivelto fica sem a estrela do seu Trio
de Ouro e amarga também a perda de alguns parceiros. Isso foi no começo de
1950.
A letra:
TUDO ACABADO
Composição: J. Piedade / Osvaldo Martins
Tudo Acabado Entre Nós, Já Não Há Mais Nada
Tudo Acabado Entre Nós Hoje De Madrugada
Você Chorou e Eu Chorei, Você Partiu e Eu
Fiquei
Se Você Volta Outra Vez, Eu Não Sei
Nosso Apartamento Agora Vive a Meia Luz
Nosso Apartamento Agora Já Não Me Seduz
Todo Egoismo Veio De Nós Dois
Destruimos Hoje o Que Podia Ser Depois
Aqui nessa gravação Dalva de Oliveira, ela
mesma, conta a história da gravação de “Tudo Acabado” . Uma pérola!!
Outro sucesso estrondoso e feito na
sequência foi o bolero “Que Será”, de Marino Pinto e Mario Rossi. Essa todos
conhecem por conta da tal “luz difusa do abajur lilás” que é por si só uma
crônica de época, vamos combinar!
QUE SERÁ
Marino Pinto / Mario Rossi
Que Será
Da Minha Vida Sem o Teu Amor
Da Minha Boca Sem Os Beijos Teus
Da Minha Alma Sem o Teu Calor
Que Será
Da Luz Difusa Do Abajour Lilás
Se Nunca Mais Vier a Iluminar
Outras Noites Iguais
Procurar
Uma Nova Ilusão Não Sei
Outro Lar
Não Quero Ter Além Daquele Que Sonhei
Meu Amor
Ninguém Seria Mais Feliz Que Eu
Se Tu Voltasses a Gostar De Mim
Se Teu Carinho Se Juntasse Ao Meu
Eu Errei
Mas Se Me Ouvires Me Darás Razão
Foi o Ciúme Que Se Debruçou
Sobre o Meu Coração
Essa foi um golpe mortal em Herivelto, já
que seu parceiro de longa data, Marino Pinto assinava a canção. E aí o nosso
querido e genial compositor entrou numa rota errada. Escreveu uma bravata em
parceria com David Nasser e as coisas tomaram um caminho ruim. A música se
chamava por ironia “Caminho Certo” e insinuava traições de Dalva de Oliveira
com os amigos e parceiros compositores. Chutou o balde! Veja esse trecho:
“Senti agora que os amigos que outrora/ Sentavam a minha mesa / Serviam sem eu
saber / O Amor por sobremesa…”
Ofendeu todo mundo!! Dalva de Oliveira era
reconhecida por sua hospitalidade, cozinhava pros amigos ainda em trajes de
palco e depois sentava na sala pra cantar.
Daí é que veio em 1950 a famosa “Errei,
sim”, de Ataulfo Alves: Manchei o teu nome /Mas foste tu mesmo /O culpado
/Deixavas-me em casa /Me trocando pela orgia /Faltando sempre /Com a tua
companhia…
Em resposta Herivelto fez “Teu Exemplo”
falando de estrelas na lama. Dalva gravou na sequência “Calúnia”, de Marino
Pinto e Paulo Soledade, e Herivelto fez com benedito Lacerda “Consulta Teu
Travesseiro” e “Não Tem Mais Jeito”.
Dessa época a mais conhecida até hoje é
“Palhaço”, presente de Nelson Cavaquinho e Oswaldo Martins para Dalva e que
fazia referência à antiga profissão de Herivelto.
Aqui vai a letra:
Sei Que é Doloroso Um Palhaço
Se Afastar Do Palco Por Alguém
Volta Que a Platéia Te Reclama
Sei Que Choras Palhaço
Por Alguém Que Não Te Ama
Enxuga Os Olhos
E Me Dá Um Abraço
Não Te Esqueças
Que És Um Palhaço
Faça a Platéia Gargalhar
Um Palhaço Não Deve Chorar
Ainda em 1951 Dalva de Oliveira grava “A
Grande Verdade”, de Luiz Bittencourt e Marlene dizendo coisas como “quando um
dia o remorso chegar e da felicidade existir a saudade no teu coração verás ao
teu lado meu vulto meio apagado…
A que Herivelto responde em parceria com
Raul Sampaio em “Perdoar”: “Eu estou cada vez mais convencido/ de que aquela
mulher é um caso perdido/ vem arrependida implorar perdão/ falta, erra e por
fim / ainda confessa, errei sim”.
Assim foi até 1952 quando os ataques foram
esmorecendo e Dalva, uma grande estrela nacional, começa a estourar nas paradas
com outros sucesso como “Kalu", de Humberto Teixeira, e “Ai. Yoyô”, de
Henrique Vogeler, Luiz Peixoto, Marques Porto e Cândido Costa.
O resultado da novela é esse repertório
incrível e uma história de amor dolorida e complicada. O cantor Pery Ribeiro,
filho mais velho do casamento de Dalva e Herivelto, acabou escrevendo um livro
de memórias incrível com Ana Duarte, sua esposa e empresária. O livro é uma das
minhas fontes pra esse post. Aqui vai a dica: “Minhas Duas Estrelas – uma vida
com meus pais Dalva de Oliveira e Herivelto Martins”.
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