Assim
desde que D. Pedro I proclamou a Independência – na medida do possível – do
colonialismo português se fazendo nação soberana, se proclamou esse dia como
dia da pátria dita amada, mas desde sempre essa celebração se faz em desfiles
de efetivos militares nas avenidas da capital federal em Brasília e nos Estados com marchas de soldados e tanques e demonstração
de honras militares e entre civis, nos desfiles tradicionais escolares, que
alguns também participei outrora e recente fui na Av. Presidente Vargas no Rio e meu filhote esteve presente em desfile colegial do Centro Educacional Ferreira Neto de Realengo/Padre Miguel.
Não sei
em que ponto isso enraíza o valor pátrio, mas toda forma é justa, ainda que
muitos contorçam o nariz no militarismo patriótico e ache que é só uma
algazarra infanto-juvenil escolar essa exaltação a pátria no 7 de setembro. A
verdade é que é só uma forma de deixar vivo
esse momento histórico que nos fizemos um país mais livre das amarras
coloniais a caminhar por nossos próprios pés.
Podem
fazer o que for, o país pode desandar, ser maltratado, que ainda assim lá no
fundo há a alma brasileira de quem gosta daqui apesar dos pesares. Sempre fui
crítico deste país e ao mesmo tempo adorando beber de suas fontes límpidas e se
fortalecer de suas raízes culturais e históricas. Somos filhos da pátria sim,
ainda que por vezes nos envergonhemos com nossas mazelas, descalabros e
diretrizes equivocadas.
Houve um
tempo que dizia que sua melhor saída era o Galeão – partir do país. Não penso
mais nisso. Bem que o país podia nos fazer se orgulhar de forma grandiosa,
radiosa. Mas ela é nossa pátria que nascemos, crescemos e haveremos de morrer
nela. Então nada mais resta fazer o que puder e
fazer nossa parte e escolher melhor nossos governantes. E mostrar de fato que nossos filhos como no
hino não fogem a luta, de forma resoluta! E marchemos não só na parada militar
e escolar – mas como a pátria em sua plena convicção e condição...
EDUARDO FILHO MEU EM DESFILE COLEGIAL DE SETE DE SETEMBRO EM 2004:
EU E A QUERIDA AMIGA SOLANGE ( "SOL" ) NO DESFILE MILITAR
DE 7 DE SETEMBRO AV. PRESIDENTE VARGAS, CENTRO DO RIO DE JANEIRO EM 2011:
E O HINO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL!
Pátria Minha
Vinicius de Moraes
A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...
Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!
Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.
Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.
Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes."
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