Fui
ver o tão falado “Somos tão jovens” sobre o início da carreira de Renato Russo
e sua Legião Urbana. Alguns senti que questionaram o porquê terminar o filme na hora H do sucesso após apresentação no Circo Voador na Lapa, mas gente, tanto o roteirista,
diretor e produtor queriam falar apenas da origem, o ponto de partida em
Brasília. Claro a gente fica curioso da parte mais madura, mais adulta, do
pós-sucesso quando ele se encaminhou ao panteão da fama. Mas isso, creio, é
outra história a ser contada ou nem precisa tanto assim: muito já se conhece.
Confesso como tantos que só esboçava desse iniciozinho, os dilemas de um jovem apenas promissor.
Como
ele, vivi os anos 80, como jovem em meio a Ditadura. Recém formado em Economia,
também tinha essa verve poética dentro de certo isolamento com uma inquietude na introspecção e que buscava em
parcas mas sólidas amizades contra a solidão cósmica e mais que tudo tédio.
Também tinha minhas revoltas sociais dentro de um país que se fazia sórdido
muitas vezes. E queria ser compositor e letrista e quem sabe até tocar e
cantar. Mas não tinha desenvoltura nem o talento que ele descobriu em si. E eu
era da praia da MPB – e era radical. Confesso quando a Blitz fez sucesso e veio
uma leva de roqueiros pop brasileiros, fiquei chateado. Mais que nunca aquele
meteórico sucesso da volta da MPB no final dos anos 70 para os anos 80, do
resgate foi desbastado por certo desbunde de que som de jovem tem que ser rock.
Aí
veio aquela coisa de mída: um grupo, um cantor por semana praticamente. Qualquer
som de garagem chegava lá. Mas eis que como tudo na vida, teve a seleção
natural das coisas: muitas se diluíram com o tempo, mas um quarteto se percebia
que veio mais consistente: Paralamas do Sucesso ( que hoje vejo que Herbert foi
o alicerce ), Titãs, o visceral Cazuza do Barão Vermelho e claro, ele, Renato Manfredini
Junior, que após flerte com o punk e seu grupo Aborto Elétrico, veio com algo
mais melódico ou pulsante com doses poéticas e virou Renato Russo com seu grupo
definitivo Legião Urbana. Fazendo letras que falassem contra o desamparo e o
desgosto que às vezes a vida perpassa.
Ele
tinha certas angústias, solidões que me vi ali. E essa vontade de fazer algo
que transpasse o vazio interior que na verdade é rico de vertentes em suas manifestações
críticas e conceituais. E criativas. Não havia em mim o que foi nele, o ambíguo
sexual que ele se fez sem saber como se portar nisso, me vi apenas hetero,
nesta época até tive relacionamento de 3 anos e 10 meses que se desfez um
noivado pelas mesmas coisas mesquinhazinhas gananciosas pequeno-burguês que tanto o compositor-poeta de
letra desprezava. Nesse ponto não há convergência de conflitos do desejo ao
sexo oposto ou comum em mim, mas no que tange a essa coisa existencial de querer
preencher com algo que dê sentido e que possa transformar de alguma forma a
mesmice, mazelas e miudezas do mundo.
A
mim coube tentar escrever apenas apesar do músico latente em mim. E sentir bem
que têm gente como ele que transpôs isso
com condições e capacidade. Mas vendo seu sucesso e depois suas dores que
continuaram feridas, vejo que quem nasce assim tem essa marca interior: nada
debela essa febre do incontido, do mal-resolvido. Somos partes e estamos a
parte do mundo. Não estou me comparando num todo a ele. Cada um tem sua
história. Tem seu cabedal cultural.
Sua
forma de pensar, de agir. De reagir. Mas com certeza essa coisa inata de
insatisfação e nele propulsor ao criar nos identificamos. A doença o venceu,
tantos poetas foram vencidos por ela a invisível mão da morte, como os poetas do século XIX com a
tuberculose. Nestes dias foi a AIDS e o câncer, o AVC e as mazelas do coração
que postam gênios. Mas pior mesmo é a auto-destruição, ou pelas drogas,
bebidas, fumo, falta de cuidado e a violência. Nesse ponto não fui nessa
decadência. Como disse cada um é cada um e nem sucesso tenho reconheço.
Apenas
digo: um dia fomos tão jovens e continuamos sendo – não aceitando, não acatando
o que querem nos ditar como o certo e comum....
ABAIXO O VERDADEIRO RENATO RUSSO
E SUA PERSONIFICAÇÃO ARTÍSTICA THIAGO MENDONÇA
E O THRILLER DO FILME...
E uma canção símbolo em que não
se deve haver tempo perdido...
P.S. DEDICO EM ESPECIAL ESTE TEXTO A DUAS PESSOAS
PRA LÁ DE ESPECIAIS:
Minha sobrinha Renata Manfredini, que pelo sobrenome já se pode distinguir
ser da família do músico como prima sei lá de que grau de parentesco- rs.
E a minha inesquecível
Rosaine Fátima Fernandes de Souza,
no face como Renata Fernandes,
que era
fã nº 1, desde a época do começo anos 80, e que recente falecida,
senti como que com ela tivesse visto ao lado no cinema, vale pela
intenção esteja onde estiveres, my darling forever -
quem sabe o esteja vendo em shows noutra dimensão...
E em 23/05/2013:
30 dias sem vc. Definitivo. E como diz a canção do seu cantor predileto "(A)onde está vc que não dentro de mim" - e o plano éramos ficar bem. Sei que assim o quer pra mim onde esteja. A vida continua pra mim - mas olhando o horizonte não estamos mais na mesma direção - que pena, não deu...
Senhor do céu cuida do meu bem-querer!
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