ANGÚSTIAS, ANGÚSTIAS, VIVER À PARTE
“Tantas
vezes, tantas, como agora, me tem pesado sentir que sinto – sentir como
angústia só por ser sentir, a inquietação de estar aqui, a saudade de outra
coisa que se não conheceu, o poente de todas as emoções… Ah, quem me salvará de
existir? Não é a morte que quero, nem a vida: é aquela outra coisa que brilha
no fundo da ânsia…”- Fernando Pessoa
Essa
angustia deve ser de quem reflete e sente, ressente a vida? Tem duas
comunidades no Orkut que tem os títulos: “Eu penso demais da vida”; e “Penso
logo não durmo”. A angustia assalta nossa alma em desassossego, mas nos instiga
ainda que não vemos sua arma apontada, sua mão que nos segura pela insegurança,
quando ela nos assola. E buscamos o que nos consola. Um tempo fui refém
dela, mas a venci na batalha de minhas forças interiores a duelar pelos
exteriores fatores que oprimem ou deprimem. Voltar a sorrir em meio a desolação
até que voltasse o equilíbrio possível.
Drummond
escreveu “ O ano novo cochila em nós” – por coincidência foi um réveillon mesmo
em 2008 para 2009 que peguei meu filho e fomos pro Recreio dos Bandeirantes no
Rio de Janeiro, batemos bola na praia,e eu sai desse clausulo angustioso. Nem
sei dizer a gangorra que era, mas eis que fiz das angustias textos, voltei a
escrever, na busca da renovação possível, de que ou de quem apraz e vivi um
2009 como ano intenso de encontro com um amor expressivo que no final trouxe a
angustia do fim que parece inexorável , mesmo que não seja.
Às
vezes a angustia nos faz pequenos ou nos agiganta ao vencer o inimigo que vaga
impreciso em si e meio que um Quixote repetir:
Sonhar o sonho
impossível,
Pisar onde os bravos não ousam,
Reparar o mal irreparável,
Amar um amor casto à distância,
Enfrentar o inimigo invencível,
Tentar quando as forças se esvaem,
Alcançar a estrela inatingível:
Essa é a minha busca.
Dizem
que filosofar é coisa de alemão, talvez pela densidade que traz a reflexão e
angustia não serve nesses coloridos trópicos brasileiros de povo alegre dizem
por natureza. Ou no mundo em geral – mas quantas vezes que assolou a angustia
do que não sou ou estou? –A angustia de às vezes se ver sem cacife, sem
poderes de reação, de tudo não ter se encaminhado pra onde queria. Mas tantos
que não conseguiram nem metade de onde cheguei? Faço agora da angustia
meu modo de expressão aqui e agora. Não queria mais tê-la na bagagem de viagem
da vida, mas se ela me acompanha, a tento domar, dominar e fazer, com que saiba
reverter em meu ser. Será que quem escreve é um angustiado? Não acho sempre,
mas é fato que os maiores criadores de escritos têm um Q de angustia diante a
existência.
Mas
já não penso tanto porque estou aqui. E porque dessa angustia infame,
inflamável. Quando minha mama morreu pude perceber que já sei reagir a ela, não
me entreguei, já que angustia é passo pra ansiedade ou depressão. Nem sei dizer
se sou um angustiado mais. Apenas alguém que se angustia na perplexidade de
um mundo de modo controverso, complexo, que se bobear nos engole ou é
indiferente. E que complica na luta e na labuta inglória. Será que me faço
entender? Compreender e fazer entender a angustia não é tarefa fácil e não vou
me angustiar por isso.
Angustia de Graciliano
Ramos é romance emblemático. Como diz trecho:
"Angústia"
(Graciliano Ramos)
Como certos
acontecimentos insignificantes tomam vulto, perturbam a gente! Vamos andando
sem nada ver. O mundo é empastado e nevoento. Súbito uma coisa entre mil nos
desperta a atenção e nos acompanha. Não sei se com os outros se dá o mesmo.
Comigo é assim. Caminho como um cego, não poderia dizer que me desvio para aqui
e para ali.
E
assim que vamos, tentando desviar da angústia. Legal quem é desencanado, de bem
com a vida. Podemos ter esses elementos para tal, desde que a angústia de todos
os nãos que vi, vivi sejam absorvidos,
do que não pode nem chegará, do sentido que se tem da vida fincar e ficar para
não entrar como um angustia que corrói e aprisiona. Quer saber? Dane-se a
angústia que vou viver e conviver até que seus turbilhões passem ao largo ou que
sejam dominados. E se não sei se possível cantar como Gonzaguinha que
“Viver e não ter vergonha de ser feliz Mas isso não impede que eu
repita: É bonita, é bonita e é bonita,”, tentar atrair o que for possível
disso com nossa antena que capta o melhores sons e imagens feito uma novela
nossa, que queremos também um enredo que tenha epílogo que termine bem .
Um “Angustia, angustia,
viver a parte”. A angústia não é mais meu par, mas quando persiste está partida... E
a angústia só se fazendo alavanca da inspiração inata.
E cantemos como Lobão...
Essa Noite Não
Composição: Lobão / Bernardo Vilhena /
Ivo Meirelles / Daniele Daumérie
A cidade enlouquece sonhos
tortos
Na verdade nada é o que parece ser
As pessoas enlouquecem calmamente
Viciosamente, sem prazer
A maior expressão da
angústia
Pode ser a depressão
Algo que você pressente
Indefinível
Mas não tente se matar
Pelo menos essa noite não
As cortinas transparentes
não revelam
O que é solitude, o que é solidão
Um desejo violento bate sem querer
Pânico, vertigem, obsessão
A maior expressão da
angústia
Pode ser a depressão
Algo que você pressente
Indefinível
Mas não tente se matar
Pelo menos essa noite não
Tá sozinha, tá sem onda,
tá com medo
Seus fantasmas, seu enredo, seu destino
Toda noite uma imagem diferente
Consciente, inconsciente, desatino
A maior expressão da
angústia
Pode ser a depressão
Algo que você pressente
Indefinível
Mas não tente se matar
Pelo menos essa noite não
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